Em uma indústria enlouquecida com detalhes, onde cada guitarrista conhece a enésima potência, não apenas os sons de suas cordas mas também tudo o que está interligado, onde cada guitarrista tem um rack de pedais, gadgets e gizmos, que parecem ser mais complexos do que qualquer equipamento da NASA. Angus Young se mostra como um guitarrista desinteressado e despreocupado ao se referir à suas varias Gibsons SG, Young as chamam “esta guitarra” ou “essa coisa”.
 
Raramente de “esta SG”. Ele admite que não conhecia os nomes das cordas e somente quando entrou para o AC/DC desenvolveu algum sentido para os nomes dos acordes e suas descrições.
 
Apesar de sua falta de conhecimento técnico, Angus Young é um dos raros guitarristas capazes tocar estruturas firmes do Hard Rock e combiná-las intrigantemente com os instrumentos de ritmo.
 
Jovem, febril e maníaco, Angus encarna em um som de guitarra estridente que faz dele e sua banda, AC/DC, os “sujos” queridinhos da Austrália e que levou o quinteto a um reconhecimento internacional. Angus combina levadas rápidas com pedaços de ritmos (o ritmo principal é feito pelo irmão Malcolm Young na guitarra base) e uma energética atuação nos palcos, colocou o nome de Angus nos escalões superiores dos guitarristas de rock.
Fora do palco, porém, ele é um pouco mais suave, tomando chá quente, sempre fazendo brincadeiras e movimentando continuamente as mãos, cabeça e pés (sem mencionar os movimentos dos olhas).

Capa da Guitar World

Capa da Guitar World

O que não é constante, no entanto, é a abordagem e direcionamento da música do AC/DC. O quinteto australiano dificilmente pode ser rotulado como uma banda de estrada ou de pop rock, mas rotulá-los estritamente como uma banda de heavy metal é um falso testemunho.
 
Angus, que começou a tocar aos cinco anos de idade em um banjo de seis cordas, tem um desdém verdadeiro pela a maioria dos grupos de rock. A interação entre Angus e Malcolm (a quem Angus cita como um guitarrista muito melhor do que a si mesmo) é a principal razão pela qual o AC/DC vem sendo levado mais a sério no meio do dilúvio de grandes bandas de rock. Os “homens” escutam bandas de heavy metal? Dificilmente.
 
Mas, certamente, injetam mais poder em suas músicas que não se podem serem ouvidas apenas uma vez.
 
“Nós tentamos fazer tudo com uma nova abordagem”, diz Angus. “Tentamos ter uma ideia do que basicamente queremos de um álbum. Não gostamos de deixar as pessoas desapontadas ou então dizendo: ‘Esses caras nos abandonou e estão tocando outra coisa.’ Essa coisa de autoindulgente. Assim, procuramos nos mantermos básicos e simples. Muitas pessoas falam que trabalhamos em uma fórmula, mas não fazemos isso. Tentamos novas abordagens o tempo todo.”
 
“Eu vi o Deep Purple ao vivo uma vez, gastei um dinheiro para isso e pensei, ‘Nossa, isso é ridículo.’ Você sempre comete esses tipos de erros. Nunca gostei do Deep Purple ou desse tipo de música. Nunca gostei. Sempre achei aquele cara do Led Zeppelin um coitado.”
 
Faixas como Back In Black e You Shook Me All Night Long (ambas do álbum Back In Black) e praticamente todas de Flick of the Switch (seu mais novo) são fortes exemplos do estilo e texturas de suas guitarras. Angus, que ganhou sua primeira guitarra elétrica de verdade (uma Hofner) quando o irmão Malcolm comprou uma Gretsch, esse empasse explica como as estruturas de guitarra do AC/DC são criadas.
 
“Ele consegue criar algum som e eu o acompanho.” afirma o guitarrista, cujas únicas aulas que teve foram assistindo a seu irmão tocar. “É uma coisa natural. Suponho que seja algo que simplesmente fazemos bem juntos. Ele sabe criar ritmo muito bem e gosta de tocá-los. Isso pra mim é o mais importante, porque se estamos tocando ao vivo e algo de errado acontece com meu equipamento ou minha guitarra cai, você ainda consegue ouvi-lo e não um vazio.”

“Ele (Malcolm) provavelmente tem a melhor mão direita no mundo. Eu nunca ouvi ninguém tocar como ele. Mesmo Keith Richards ou qualquer um desses caras. Se acontece alguma coisa a outra guitarra, se escuta um vazio. Mas, com Malcolm não. Além disso, Malcolm sempre diz que ser o lead guitar (guitarra principal) atrapalha na sua bebedeira e que então eu deveria ser.”
 
Autodeclarado “analfabeto” no instrumento, Angus nunca levou tocar a guitarra à sério até aos quatorze anos de idade. Quando ganhou uma Hofner, ele se dedicou a aprender um pouco mais e ainda conseguiu um amplificador de sessenta dólares.
 
“Lembro de um dos primeiros shows que toquei com aquele amplificador, foi em uma igreja local. Queriam alguém que pudesse tocar guitarra e meu amigo disse: ‘Ah, ele pode tocar.’ Quando liguei meu amplificador e comecei a tocar todo, mundo começou a gritar para diminuir o volume!”
 
Angus nunca deixou de tocar e ouvir estilos e músicos que o influenciaram (principalmente o rock antigo e gravações de Chuck Berry). E com uma espécie misturada de estilos, ele passou de lead guitar para um comandante de ritmo. Angus mostra uma aversão pura aos solistas e ao assunto sobre solo, e diz que sua técnica foi desenvolvida com pouca dificuldade.
 
“Fazer solo foi muito fácil pra mim, porque foi provavelmente a primeira coisa que fiz”, revela Angus. “Eu costumava fazer solos por ser o lead. Eu nem sabia os nomes das cordas até Malcolm me ensinar, após isso comecei a trabalhar melhor nos solos.”
 
Encorajado para melhorias, Angus deixou a Hofner de lado e comprou uma Gibson SG usada. Modelo de 1967, a guitarra foi usada até poucos anos atrás, quando a madeira apodreceu (devido à umidade excessiva de suor) e o braço se quebrou, isso o obrigou a procurar uma substituta.
 
“Ela tinha um braço muito fino parecido com uma das versões personalizadas”, descreve Angus, cujo pequeno tamanho de suas mãos combinava perfeitamente com o corpo da guitarra. “Gostei das SGs porque eram leves. Tentei Fenders, mas eram muito pesadas e simplesmente não têm o mesmo poder. E eu não queria colocar DiMarzios nelas, porque todo mundo soa igual. É como se você estivesse ouvindo a um cara na rua. Eu gostei do som pesado da Gibson.”
 
Para esse instrumento em particular (uma Gibson 1967) , foi difícil para Angus encontrar um substituto. Ela tinha um pescoço fino e depois de procurar incansavelmente em todas as lojas de guitarra mais importantes do mundo, foi muito difícil de encontrar um instrumento tocável igual aquela sua primeira Gibson 1967. Ele usou essa guitarra a partir de 1970 (quando a comprou) até 1978 (ele precisou substituir os captadores originais após um ano de uso por conjunto de captadores da Gibson). E quando procurou por outra SG, ele a comprou em uma loja de penhores em Nova York.
 
A Gibson desaprovada por testes de fábrica devido a falhas no acabamento é também uma SG modelo de 1967 com um braço fino; característica do modelo. A forma do instrumento também atraiu Angus, os dois chifres permitem fácil acesso aos trastes superiores.
 
“E você também pode fazer um monte de truques sobre ela.”, afirma.
 
Assim como é fiel à Gibson SG, Angus também é apaixonado pelos amplificadores Marshall. Tocando com outros amplificadores (Ampeg em particular) chegou à conclusão de que os amplificadores Marshall de cem watts é “o melhor amplificador do rock”. Os controles de tom representam pouco mais do que um jargão para ele – tocando com modelos ingleses por mais de uma década o fez a confiar em determinadas configurações.
 
Todos os quatro amplificadores são configurados praticamente iguais: volume ao máximo; graves e agudos na metade; midrange a metade, e presença em zero.