THE RED BULLETIN: Angus Young, você tem ideia do motivo que levam as pessoas gostarem do AC/DC?

ANGUS YOUNG: Acho que é muito simples. O AC/DC é o AC/DC. As pessoas podem confiar em nós. Elas sabem o que as espera. E, mesmo assim, conseguimos surpreendê-las. Às vezes positivamente, às vezes negativamente (rindo).

Você tem 60 anos agora, mas continua soando como quando tinha 20. Como consegue fazer isso?

…sabe de uma coisa? Você sempre soa como você se sente. Eu não me sinto em nada com 60 anos. Quando estou tocando guitarra, sempre tenho 18 anos, da mesma forma como nos apresentamos pela primeira vez. Sou uma criança aprisionada em um corpo de adulto.

E como você se sente nessa prisão?

A aparência física não importa. Nós nunca fomos bonitos mesmo (rindo).

O título do novo disco é Rock or Bust, algo como “Rock ou Explosão”. Cá entre nós: rock e explosão ainda continuam sendo os planos A e B para a vida? Mesmo depois de 200 milhões de discos vendidos, entre eles Back in Black, que vendeu 49 milhões de cópias, mais que qualquer álbum dos Beatles ou dos Rolling Stones?

Pro inferno com planos de vida. O negócio é fazer simplesmente aquilo que te dá prazer e não deixar que ninguém lhe imponha algo. Isso é o que importa. Independentemente de ter 18, 60 ou 102 anos.

Eu ouvi o álbum Rock or Bust muito atentamente, e na faixa “Dogs of War” há muitas ideias criticando a atual situação mundial. Ou eu estou ouvindo demais?

Nessa estamos falando sobre Aníbal e seus elefantes. Isso não é atual. É passado até mesmo para homens com nossa idade (rindo). A propósito, o Aníbal foi o máximo. Um mestre na arte da guerra.

Você estuda muito História. O que dela fascina você?

Nada é mais fascinante que História. É impressionante ver como países e culturas cresceram e dominaram o mundo para depois desaparecerem da face da Terra de repente, saber que erros cometeram, quem estava por trás deles. Eu não entendo como as pessoas não têm mais curiosidade pela história. Você pode aprender tanto com ela.

AC/DC em 1980, Pinewood Studios, Inglaterra

AC/DC em 1980, Pinewood Studios, Inglaterra

Quer dizer então que o Aníbal é atual?

Quase isso (rindo). Você sabe, as pessoas têm a tendência de repetir sempre as mesmas besteiras. Não querem se tornar mais espertas por nada neste mundo. É por isso que esta porcaria de mundo está como está. Por isso existem tantas guerras. Porque ninguém se dá ao trabalho de entender o passado.

Ninguém fora você. E o Ozzy Osbourne, que também tem um fraco por história.

Isso é fácil de entender. Nós pertencemos à geração pós-guerra, o que nos deixou marcados. Se você cresceu numa época como aquela, é mais que natural que queira entender o motivo de o mundo ser como é. E então a história não te deixa em paz pelo resto da vida, porque ela é repugnante e fascinante ao mesmo tempo.

Você também tem muito talento para pintar. Verdade?

Pintar? Claro. Posso pintar sua casa, se você quiser. Eu consigo fazer isso.

Fiquei sabendo de um grande interesse por pintura de paisagens…

Sim, é verdade, mas eu nunca diria que sou bom nisso. Comecei a pintar quando estava na escola, e até hoje é um hobby. Nada mais que isso. Não tenho ambições, se é o que você quer saber.

O AC/DC ficou sem o seu irmão Malcolm desde o verão passado porque ele sofre de demência. Ele vai se recuperar?

No momento parece que não. Ele realmente não está bem, e a tendência é de que piore. É trágico. Merda de doença.

Até que ponto a doença dele o faz pensar as coisas, no sentido de até quando ainda poderemos continuar? Ou talvez: até quando ainda queremos continuar?

Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O Malcolm tem uma postura muito positiva com a doença e isso também nos ajuda a lidar melhor com ela. Para nós está muito claro: continuaremos fazendo o que fazemos enquanto quisermos. Enquanto tivermos paixão e energia e estivermos mais ou menos em forma. Por que deveríamos desistir por conta própria? Olha, eu amo o que faço!

E também você seria o primeiro astro do rock a dizer em uma entrevista: odeio minha música e só toco mesmo pela grana.

Hahaha, acredite. A coisa é como estou lhe dizendo: não posso imaginar nada melhor nesta vida do que subir num palco para tocar ou pegar a guitarra e compor uma música. Era assim em 1973 e é assim em 2015.

Angus Young no Victoria Park em Sydney, 1974.

Angus Young no Victoria Park em Sydney, 1974.

Você não para de se mover no palco durante os seus shows. Alguma vez você fez uma estimativa de quantos quilômetros faz por apresentação?

Não tenho ideia. Só sei que já detonei vários pares de sapatos (rindo).

O que nos espera durante a sua próxima turnê mundial?

O melhor que nós temos para dar.

Isso vai incluir aquela parte em que você mostra a bunda para a plateia?

Acho que nunca mais vou me livrar disso, não é (rindo)? A minha bunda se tornou uma parte importante do show – assim como a dança do pato e os espasmos incontroláveis. Tudo isso faz parte do show e as pessoas ficariam decepcionadas se eu de repente tirasse tudo do programa. Mesmo que minhas nádegas já não sejam tão durinhas quanto antes: enquanto elas não causarem nojo no público, eu vou continuar mostrando.

Como foi que você teve a ideia de mostrar a bunda para o mundo?

Eu não sei mais exatamente quando e onde foi, mas foi porque eu queria tirar da reserva um público que estava muito letárgico. E funcionou. Nos primeiros shows, o público ficava furioso e eles atiravam qualquer coisa que tivessem nas mãos. Mas depois, em relativamente pouco tempo, a minha bunda se tornou um tanto querida. Ouvi até dizer que houve pessoas que foram ver nossos shows por causa dela, ou seja, para ver minha bunda. Eu espero que tenham sido principalmente mulheres…

Depois de tanto tempo, quantos desses uniformes de colégio que viraram a sua marca registrada você tem?

Devo ter algumas centenas que fui acumulando com o passar dos anos.

Isso é bastante coisa! Em algum lugar então existe um guarda-roupas do tamanho de uma quadra cheio de uniformes…

Não, não! Isso não. Eles não aguentam nada. Depois de um ou dois shows eles estão tão gastos que não servem mais para nada.

Você compra esses uniformes de estudante nas lojas ou eles são feitos sob medida?

A maioria deles foi feita sob medida. Principalmente os mais novos. Mas o primeiro uniforme que vesti num show do AC/DC era um uniforme oficial de uma escola pública. Então você imagina, né: meu colégio não ficou muito feliz com a história. Ainda mais porque eu disse para todo mundo ouvir: “Vejam! Eu sou o produto da educação pública. Talvez tenha alguma coisa errada com esse sistema…”

Hoje ninguém mais sabe disso, mas houve um tempo em que não havia os uniformes escolares. Você tocou com fantasias variadas, de Homem-Aranha, Zorro, gorila…

…tudo o que você possa imaginar. Nem me lembre! Cara, aquela fantasia de macaco era horrível! Eu quase não podia respirar lá dentro.

De quem veio a ideia?

Naquela época tínhamos um empresário que passava todo o tempo tentando construir uma imagem diferente para nós. Mas o Malcolm pôs um fim na história: não precisamos dessa palhaçada. Vamos ficar com os uniformes escolares. E ponto final.

E o que o fascina tanto na Gibson SG para ser a única guitarra que você usa há 40 anos?

O corpo dela tem dois chifres. Quando era muito jovem e entrei pela primeira vez em uma loja de guitarras, vi todas aquelas maravilhosas Les Paul e coisa e tal. Mas então vi a SG com os dois chifres do demônio e foi como se um raio tivesse me atingido. Eu soube naquele momento que era ela. Não fui eu quem escolheu a SG. Foi ela que me escolheu. E nunca mais me deixou.

Fonte: Revista The Red Bulletin