O baterista do AC/DC contou a jornalista Annemarie Quill que seus dias no inferno acabaram. Inspirado por Sir John Kirwan (ex-jogador e técnico neozelandês de rugby), ele visita um psiquiatra uma vez por semana e disse que está mais próximo do que nunca de seus filhos. Ele ainda continua com todos seus carros de corrida. E agora aos 61 anos de idade, o velho roqueiro está plantando pimenta.

Plantar pimentas ardidas era algo que o baterista Phil Rudd do AC/DC nunca imaginou que se tornaria uma paixão.

Mas quando você está confinado às quatro paredes por oito meses, mesmo morando em uma mansão em frente à praia tendo Ferraris como companhia, “você descobre coisas sobre você mesmo. Você pensa muito, toca muita bateria e planta uma porrada de pimentas.”

Fileiras de pimenta “Red Blood” estão sendo cultivadas em colunas na cozinha da casa de Phil Rudd. Ele abre a geladeira e exibe um lote de molho de pimenta em vidro.

“Eu gosto de plantar as coisas. Eu gosto de comida picante. Eu tinha o tempo ao meu lado. Agora eu tenho o ‘molho de pimenta Phil Rudd’.”

Agora ele está livre. Em março, a prisão domiciliar de Rudd acabou. Durante a sentença, ele foi proibido de usar drogas não prescritas e ordenado a fazer teste de drogas e álcool quando a polícia requisitasse.

“Já estou liberado. Estou livre pra fazer o que gosto… bom, não tudo.”

Assista Phil Rudd tocando a música a faixa-título de seu álbum solo, “Head Job”

Um ano especial

Sentado em sua mesa, Rudd acendeu um cigarro. Ele parece relaxado em uma camiseta preta, calça jeans e tênis.

“Eu estou me comportando bem. Eu tentei parar de fumar, mas não consegui. Eu não bebo. Não sou muito fã de bebida, então isso não me faz falta. Mas eu parei com todas as loucuras.”

“No começo foi difícil. Frustrante. Não podia ir fazer compras. Fazer coisas do dia a dia. Eu tinha permissão para ir ao meu barco por alguma horas, duas vezes por semana. Eu ia pela manhã. Eu ia com meu carro. Essa era a minha única liberdade. Por ser de Touro, uma pessoa autodeterminada, no começo eu sofri por ter que ficar em casa por tempo determinado. Mas agora, eu sou um cara caseiro.”

Desde março, quando acabou a pena, ele disse que não da mais festanças em sua casa para celebrar.

“É mais provável que durante as tardes você me encontre em casa assistindo Brooklyn Nine Nine.”

“Eu não tenho saído muito. Nem mesmo fui na [autoestrada] Tauranga Eastern Link. No entanto, eu fui assistir ao último filme do Star Wars.”

Ele levanta as cinco da manha todos os dias. Pega um de seus carros para dirigir. Às vezes para pra tomar “café da manhã inglês completo” (Full English Breakfast) no Last Gasp Café, o qual ele é dono. Ele assiste esporte na televisão. Pega sua filha na escola e malha na academia em sua casa.

“Sabe, eu não me meto em loucuras. Eu não quero estar encrencado de novo.”

Ele disse que não se sente incomodado com dias tranquilos. “Eu não fico entediado. No mundo da música você se acostuma a esperar. Eu aproveito os dias que não tenho nada pra fazer porque haverão dias que serão ocupados.”

A tranquilidade dos últimos oito meses e o estilo de vida calmo é algo que ele quer preservar, ele conta.

“Tudo isso agora faz parte de quem eu sou. Com ajuda. Eu tive que buscar ajuda para lidar com os meus problemas.”

Phil Rudd em sua casa em Tauranga. Nova Zelândia.

Phil Rudd em sua casa em Tauranga. Nova Zelândia.

Ajuda veio na forma de um psiquiatra.

Rudd disse que está tendo sessões particulares com o médico há mais de um ano. Ele afirma que está sendo “muito bom”.

“Ele vem aqui em casa uma vez por semana. Nos damos muito bem. Eu o descreveria como um amigo. No começo eu falei muita merda pra ele, sobre o psiquiatra do ‘Clockwork Orange’ e tudo mais… mas ao conversar sobre tudo e também largar todas as loucuras, ser ‘forçado’ – de forma lúcida – a fazer isso, foi bom. Eu fiquei muito feliz em conseguir ajuda.”

Rudd conta que assumir que precisava de ajuda foi difícil. Que ‘ter problemas’ não é da personalidade de um rock star. Mas ele foi incentivado por Sir John Kirwan a falar sobre sua depressão e como poderia superá-la.

“Eu nunca me senti tão bem em toda minha vida. Fisicamente, mentalmente, hoje estou melhor do que nunca.”

Ele não se tornou um monge, ele diz. Ele não tem uma mulher especial em sua vida, mas gosta de conhecer algumas.

“Sim, eu gosto disso. Mas eu acho que sou um cara difícil de conviver.”

Rudd também contou que está mais próximo dos filhos. Ele também contou com o apoio de velhos amigos. Você não o encontra mais protegido por seguranças. “Eu não preciso deles… eu, de verdade, larguei toda aquela besteira.”

Ele pode ter deixado de lado o estilo de vida rock n’ roll, mas não largou o rock n’ roll.

“Eu ainda sou um bad boy na bateria. Provavelmente estou tocando melhor do que nunca.”

Um futuro com o AC/DC?

A banda ainda quer tocar com ele?

Com a pena que recebeu, Rudd não pode viajar para os EUA. Ele diz que pode viajar para a Europa.

Mas a questão ainda é: Rudd continua na banda? É ‘rock’ (detornar) ou ‘bust’ (fracassar)?

Rudd fuma seu cigarro e olha para o mar.

Ele conta que não falou com os membros da banda desde sua sentença.

No começo do mês, quando questionado sobre Rudd, Angus Young disse: “Eu não tenho ouvido falar sobre Phil. Ultimamente ele está bastante quieto”, mas Axl Rose falou: “Eu conversei com ele sobre esses outros vocalistas!”

Rudd ri sobre isso. “Não, eu não falei com Axl. Ele não falou comigo.”

“A decisão é de Angus, ele faz o que quiser. Tenho restrições para viajar.”

“Eu estava acabado. Aparecendo em todos os lugares [na mídia]. Eu não sou mais aquela pessoa. Eu nunca me senti tão bem como baterista e pessoa como agora. Não estou dizendo que não quero mais tocar com o AC/DC mas, de novo, ainda é AC/DC? Sem a maravilhosa voz do Bon. Sem Malcolm. Sem Brian.”

Mas Rudd não está deixando as baquetas de lado.

Ele fez uma solicitação para ter permissão para ir à Europa em junho fazer alguns shows para promover o álbum “Head Job“. Ele também disse que está considerando ampliar seu restaurante em Tauranga, “Phil’s Place”, abrir outro na Nova Zelândia, possivelmente na cidade de Queenstown ou Taupo. E ele definitivamente quer participar de corridas.

Baterista Phil Rudd. Maio de 2016.

Baterista Phil Rudd. Maio de 2016.

“Eu estou indo para a França e Bélgica para fazer alguns shows. Locais pequenos. Ei, pode ser até mesmo um pub, sabe? Vai ser algo pequeno.”

“Agora eu amo as coisas simples”

“Estou pensando no futuro agora, quero participar de corridas. Tocar de novo. Mas não vou fazer tudo na correria. Não vou criar espectativas. Eu gosto de viver aqui, nesta casa. Eu gosto da criançada. Eu não quero deixar Tauranga. Agora eu amo as coisas simples, como sentar e curtir o por do sol.”

Na próxima semana ele estará completando 62 anos de idade. Ele disse que não está planejando nenhuma festa. As únicas garrafas que estão na geladeira são de molho de pimenta.

“Garanto pra você que eu estou muito mais positive agora que eu larguei todas as loucuras, e eu não quero voltar a elas.”

“Agora, eu vou tomar outra xícara de chá.”

Matéria traduzida do site NZ Herald