Mike Fraser é nada menos que um dos melhores engenheiros de som do mundo. Já trabalhou com Aerosmith, Metallica, Jimmy Page, Airbourne, Van Halen, Joe Satriani, Slipknot, The Answer, Bad Religion, Amen, Chickenfoot, entre outros.
Sua jornada com o AC/DC começou com o álbum The Razor Edge, em 1990, e continua até hoje.

Você começou trabalhando como zelador na gravadora Little Mountain Sound. Como a transição para engenharia de som aconteceu?

Naquele tempo, o estúdio no qual eu trabalhava (Little Mountain Sound) era basicamente um estúdio de gravação de jingles. Eles gravavam principalmente comerciais de TV e rádio. Meu dia de trabalho como zelador começava às 5h da manhã.  Às 8h eu ajudava a configurar as sessões de gravação daquele dia, e então assistia às gravações das 9h da manhã até às 6h da tarde.
Bob Rock havia acabado de começar como engenheiro naquela época, e ele chegava por volta das 7h da noite para gravar com as bandas punk locais. Perguntei para ele se poderia ajudá-lo, e acabei trabalhando muito com ele. Como ele normalmente trabalhava até às 2h da manhã, e eu tinha que estar de volta ao trabalho às 5h, acabei me mudando para o estúdio com um saco de dormir e mergulhei no aprendizado daquele ofício.

Bob Rock e Bruce Fairbairn se reuniram e iniciaram uma gravação da (banda canadense) Prism, e eu me tornei parte desse time. Nós fizemos até mesmo gravações da (banda canadense) Loverboy, e esse foi o pontapé internacional inicial. 

Diversos artistas mais tarde, Bruce recebeu uma ligação para fazer uma gravação do Aerosmith (do álbum Permanent Vacation). Após cerca de uma semana tocando o projeto, Bob foi escalado para uma turnê com a banda na qual ele tocava guitarra (a banda The Payola$), então ele teve que deixar as sessões. Bruce então me pediu para finalizar o restante da gravação do Aerosmith.
Quando a gravação estava pronta, Bruce teve de ficar fora da cidade por três dias, e então me pediu para fazer uma primeira mixagem das músicas, assim ele poderia enviar uma fita demo para alguém fazer a mixagem final da gravação. No primeiro dia de mixagem, Steven Tyler e Joe Perry vieram para ouvir como estava ficando. Depois ouvir, eles disseram, “por que você não faz a mixagem pra valer?”. Eu tinha 3 músicas mixadas quando o Bruce voltou, e ele não ficou muito feliz ao saber que não havia mixado todas as músicas.

Steven disse então para ele checar o que eu havia feito. Depois de ouvir, Bruce me disse: “Acho que encontramos nosso mixador para a gravação”. Então, para mim, esse foi o início de tudo.
 
Quem você considera ser o seu mentor nesse ramo?

Roger Monk era o engenheiro de jingles que me ensinou todo o básico. Bob Rock injetou suas habilidades em mim, e Bruce Fairbain ajudou a unir isso tudo.
 
Algum produtor favorito com o qual trabalhou?

Eu trabalhei com muitos caras diferentes e todos eles têm um jeito diferente de trabalhar, mas eu não poderia escolher um favorito. Gostei de todos eles!
 
Como você vê a evolução do processo de gravação ao longo dos anos? Ainda há espaço para gravações analógicas?

Por uma série de razões diferentes, a gravação analógica está se tornando uma coisa rara. A principal razão é econômica. Fitas cassete estão se tornando difíceis de conseguir e caras de fabricar. Um rolo de fita cassete que pode gravar 15 minutos de um álbum com 24 faixas pode custar mais de 300 dólares.  Um disco rígido, que pode conter um álbum todo, custa aproximadamente o mesmo valor. Os orçamentos atuais não permitem o uso de fita cassete. É uma pena na verdade, porque gravação analógica ainda soa muito melhor para mim. 
 
Na sua opinião, talento e criatividade ainda são mais importantes de que toda a tecnologia disponível atualmente?

Oh, com certeza! Você simplesmente não pode substituir ou produzir um grande talento. Mas uma boa música é tão importante quanto, se não for mais importante. 
 
Qualquer fã de música sabe que comprimir álbuns em formato mp3 significa perder a qualidade do som. Como engenheiro de mixagem, deve ser difícil para você ouvir seu trabalho em mp3. Qual sua opinião sobre esse formato?

Sim, o som das músicas em formato mp3 é difícil de ouvir, mas eu discordaria com você no aspecto de que “qualquer fã de música  sabe” que músicas em mp3 perdem qualidade. Se eles soubessem mesmo disso, lutariam por uma qualidade melhor. Eu conheço muitas pessoas que não percebem que um mp3 não soa tão bem como um CD. Ainda bem que quanto mais as pessoas entenderem isso, mais irá crescer a demanda por uma melhor qualidade.
 
Você provavelmente já ouviu muito sobre isso, mas não poderíamos deixar de perguntar: Como foi trabalhar com Jimmy Page no álbum de Coverdale/Page?

Jimmy é um grande cara, foi explosivo trabalhar com ele. Ele é um dos meus heróis de todos os tempos, e eu ainda me belisco ao lembrar que tive a oportunidade de trabalhar com ele.
 
Você tem trabalhado com bandas novas atualmente? Alguma favorita?

Atualmente, estou trabalhando com uma banda canadense de Halifax (Nova Escócia). Eles são uma espécie de banda de rock celta. Voei para Halifax para produzir sua gravação num estúdio chamado Sonic Temple. Foram 10 dias de trabalho duro e muita diversão!
 
Ok, agora vamos às questões sobre o AC/DC. Quantos anos você tinha quando os viu pela primeira vez ao vivo? E como foi?

A primeira vez que vi o AC/DC foi quando eles abriram para o Aerosmith na turnê “Highway to Hell” em 1978. Depois do show, saí e comprei todos os discos deles em que botei as mãos. Fiquei totalmente extasiado e tenho sido um grande fã desde então!
 
Você tem trabalhado com o AC/DC desde o álbum “The Razors Edge”. Seus álbuns são, de alguma forma, diferentes uns dos outros, mas cada um deles tem aquele som único do AC/DC. Como a banda mudou ao longo dos anos? Digo, os caras querem coisas diferentes de álbum para álbum? Eles pedem coisas diferentes para você?

O AC/DC é uma banda fantástica em estúdio. Todos os álbuns deles em que estive envolvido foram feitos pricipalmente ao vivo. Ao longo dos anos, eles desenvolveram seu som, e acredito que não há uma fórmula, nós continuamos preservando aquele som. É muito fácil, na verdade. Uma faixa de guitarra para Malcolm, outra para Angus, baixo e bateria. Brian canta junto com a banda para os takes ao vivo, mas regrava os seus vocais depois. Então, Angus repassa seus solos e conduções. É basicamente isso.
 
`Live at River Plate´é um dos melhores registros ao vivo do AC/DC. Como foi o processo de mixagem?

Novamente, como esses caras são uma banda bem entrosada, mixar é sempre uma alegria. O desafio em River Plate foi conseguir um bom equilíbrio entre a multidão cantando junto, mantendo o som da banda “na sua cara”. Conforme você coloca os microfones do público, o som da banda tende a ficar menos potente.
 
Angus e Brian disseram que a banda está planejando um novo álbum, possivelmente para o fim de 2012, e nós estamos na expectativa com as notícias. Você está ansioso como a gente? Eles já falaram algo com você?

Estou sempre entusiasmado para trabalhar em um novo álbum do AC/DC. Não ouvi nada a esse respeito ainda. Os caras mantêm tudo bem em silêncio até estarem prontos para rodar.
 
Por fim, quais são seus 5 álbuns favoritos de todos os tempos?

Wow, essa é difícil! Há tantos álbuns fantásticos por aí. Mas acredito que meu top 5, porque eles tiveram grande impacto em mim para entrar nesse ramo, seria Back In Black, Highway to Hell, Paranoid, Led Zeppelin IV e Van Halen I.

Mais sobre Mike Fraser, visite: http://www.mikefrasermix.com