A jornalista Nicki Gostin do site Pop Eater conduziu uma entrevista com o vocalista Brian Johnson.

Faz sentido. O vocalista do AC/DC, Brian Johnson, o homem que cantou She was a fast machine, she kept her motor clean (Ela era uma maquina rápida, e conservava o motor limpo) há 31 anos, ama, ama e ama carros. O bastante, de fato, para tirar um tempo livre de seus compromissos com uma das bandas mais movidas a testosterona da história do rock para escrever um livro usando suas memórias automotivas.

Rockers and Rollers: A Full-Throttle Memoir é uma leitura hilária, e eu disse isso a Johnson assim que começamos nossa entrevista para a Pop Eater. Mas após conversarmos sobre seus carros favoritos e a fascinação fálica dos homens por eles, o charmoso cantor de voz grave falou sobre o futuro do AC/DC que já se aproxima dos 40 anos, revela a história sobre o seu boné característico, sobre seu contato com Arnold Schwarzenneger, seu desprezo por religião e sobre o motivo de ele nunca teria vontade de acompanhar seu camarada de Rock n Roll Hall of Fame, Steven Tyler, em um show de talentos na TV.Rockers and Rollers: A Full-Throttle Memoir

“Eu não assisto American Idol“, admite. “Eu não gosto de assistir pessoas sendo humilhadas. Me machuca. Algumas pessoas são mais nervosas que as outras. Eu me apavoro so de pensar que um programa desses consegue fazer uma pessoa passar mal só de nervoso. É penoso assistir essas pessoas sendo taxadas de péssimas e as lágrimas começam a rolar, mas certamente esse tipo de programa faz alguém ganhar muito dinheiro, e sem dúvida, não são os artistas que ganham”.

O livro é hilário!

BJ: Obrigado, querida. Isso é ótimo. Eu simplesmente armei tudo pra ter um pouco de diversão enquanto os rapazes estavam gravando as músicas do álbum [Black Ice]. Eu não tinha nada pra fazer, então pensei que poderia pelo menos tentar escrever uma vez e dar pra alguém publicar. 

Qual o seu carro favorito de todos os tempos?

BJ: É um Bentley, 4 1/2 Litros de 1928. É o carro que eu sempre sonhei em ter. É uma “pedrada” para dirigir, bem difícil e potente. Te faz se sentir homem. Eu paguei mais ou menos US$ 650 mil por ele. Você se sente como um piloto da Segunda Guerra subindo aos céus com o seu Spitfire (caça britanico da segunda guerra) detonando alguns alemães. Eu tenho ao todo 11 carros, mas quatro deles são carros de corrida os quais não podem ser utilizados na rua. Meus carros de corrida, eu os amo de paixão.

Qual o carro mais difícil de “dar uma” dentro?

BJ: Eu diria definitivamente que é um Mini Cooper, mas quando se é jovem, como eu digo no livro, você pode fazer qualquer coisa, acrobacias e tudo mais se você está desesperado (risos)

Os homens são obsecados por carros porque eles são uma extensão de seus pênis?

BJ: Com certeza, querida. Sempre foi esse o caso. Olhe para o Jaguar 8. É o exemplo perfeito, tem o maior capô. Assim que você é um rapaz jovem, mesmo se você não consegue manter um belo carro, você começa a arrumar o carro que você tiver. É como um pavão que abre as penas para atrair as fêmeas, você envenena seu carro e diz: “Hey boneca, vamos dar uma voltinha?”. Minha frase nessas horas sempre foi: “Vamos, não seja tímida, sua mãe não era”.

E arrancava risadas com essa fala ou as garotas ficavam irritadas?

BJ: Eu costumava dizer de uma maneira engraçada, embora nem todas tinham um bom senso de humor, o que é uma pena. Eu diria, no entanto, que os homens amam carros. Quando você nasce com praticamente nada ou em dificuldades como nós, eu acho que o sonho cresce ainda mais e mais forte quando você sabe que nunca terá capacidade de conseguir o carro que quer, é por isso que muita gente tem fotos e poster na parede de carros dos seus sonhos, e 99.9% dessas pessoas não conseguem os carros que elas querem. Se você vem de onde eu venho, você apreciaria ainda mais do que caras que nascem em berço esplendido que conseguem carros sport quando fazem 18 anos. É só uma dessas coisas que você aprecia bastante. Eu dirijo todos os meus carros e limpo todos eles também, polindo e tudo mais.

Brian Johnson e seu Bentley 1928.

Brian Johnson e seu Bentley 1928.

Me diga como você começou a usar sua boina de “jornaleiro” que é sua marca registrada hoje.

BJ: Bem, querida, a primeira banda que eu estive era chamada Geordie no início dos anos 70. Nós tivemos 3 ou 4 hits e as pessoas achavam que tinha me tornado um milionário instantâneo, e não era o caso. Nós não fizemos muito dinheiro e quando tudo terminou, eu era o que estava mais na pior de todos que estavam na banda. Então eu tive que arrumar um trabalho bem rápido e eu acabei pegando a primeira coisa que achei: fui trabalhar na rodovia como colocador de para-brisa. Eu achei que era uma boa ideia porque ninguém ia me reconhecer, mas só de precaução eu peguei a boina do meu irmão e coloquei forte na cabeça cobrindo bem os meus olhos para que ninguém me reconhecesse e dissesse: “Não era você o cara que estava na televisão?”

Alguém te reconheceu?

BJ: Sim, não deu certo. Minhas bochechas rosaram e foi horrível. A humilhação de tudo aquilo, e eu já estava em outra banda que tocava nas noites que era bastante popular, tocando em pubs e tudo mais. Mas eu continuei usando o boné porque eu ia direto do trabalho para o palco, e acabou virando algo como marca registrada minha, tipo meu chapéu da sorte. E aí, quando entrei para AC/DC, eu quis largar o chapéu, mas o Malcolm disse: “Não parceiro, esse chapéu tem estilo. É bem diferente, continue usando”. E eu continuei desde então.

Me lembro uma vez em 1985, quando pensei em realmente parar de usá-lo, meu cabelo estava todo desgrenhado na época, e eu tirei uma vez e na frente do palco a galera começou a zoar e tudo mais, e eu pensando: “Merda, o que foi que eu fiz?”. Eu corri de volta pro Malcolm e ele me disse: “É a sua boina, cara. Eles querem a boina!”, e eu corri de volta peguei minha boina e voltei ao palco e todo mundo dava vivas na platéia! (risos)

Em dois anos o AC/DC fará 40 anos. Vocês tem algum plano para turnê ou gravar um disco?

BJ: Eu vou me encontrar com os rapazes e provavelmente teremos uma conversinha sobre como estamos nos sentindo. Nós nunca tipo dizemos que vamos entrar em estúdio em janeiro do próximo ano, se você faz esse tipo de coisa, querida, você começa a se colocar sob pressão e nós nunca trabalhamos dessa forma. Nós sempre fomos bem relaxados, tipo vamos conforme o vento. Nós somos como pássaros migratórios, sentimos o cheiro do ar, esticamos as nossas bundas e dizemos, “hummm, é o momento de ir”.

Você acha que irá fazer turnê?

AC/DC em 1980 durante as sessões de gravação de "Back in Black"

AC/DC em 1980 durante as sessões de gravação de “Back in Black”

BJ: Bem, se um álbum sair, embora eu acho que eu não conseguiria fazer outra tour novamente por dois anos, seria brutal. Mas eu odiaria dizer que esse é o fim de tudo. Eu acho que você precisa de uma parada total no final de tudo, uma sentença, sua vida, ou seu carro. Tem que ter uma parada total e eu acho que ainda não tivemos essa parada total.

Quanto tempo você acha que levou para os fãs de Bon Scott aceitarem você?

BJ: Eu tenho certeza que muita gente achou que não iria dar certo. Os rapazes foram fantásticos. Eu me lembro do primeiro show na Bélgica, eles só disseram: “Brian, vai lá, manda ver”, eles podiam ver o quanto nervoso eu estava. Nós subimos ao palco e tinha um mar de placas dizendo: “Bon Scott. RIP”, mas bem no meio tinha uma grande placa dizendo: “Boa sorte, Brian”. E aquilo me emocionou, e ainda me emociona quando eu penso nisso.

Basicamente foi isso e decolou dali pra frente. Eu cantei as músicas mais na boa, mas a medida que o Back in Black começou a ficar mais e mais popular eu comecei a berrar mesmo, tipo mandar ver. Tem sido uma excitante viagem de lá pra cá. Tenho muito orgulho de ser parte do AC/DC e ainda estamos crutindo e conquistando fãs pelo mundo todo.

Você fez um vídeo (Big Gun) com alguém que tem estado no meio das notícias ultimamente… Arnold…

BJ: Eu me lembro. Foi hilário. Ele era um grande músculo com uma cabeça em cima. Quando ele foi para o trailer para trocar de roupa e veio vestido de Angus, eu pensei: “Merda, alguém deixou uma mangueira de ar ligada no rabo do Angus enquanto ele dormia” (risos). Assim que ele começou a entrar na música, ele começou a mudar, aquele personagem de Hollywood tão defensivo que ele era começou a mudar para um cara mais alegre, rindo, se divertindo e acabou se tornando um cara bem legal ali. Não era o cara mais falante do mundo, era um pouco mais quieto.

Steven Tyler ajudou a introduzir vocês no RocknRoll Hall of Fame. Você o assiste no American Idol?

BJ: Eu não assisto o American Idol. Eu não gosto de assistir pessoas sendo humilhadas. Me machuca. Algumas pessoas são mais nervosas que as outras. Eu me apavoro só de pensar que um programa desses pode fazer uma pessoa passar mal só de nervoso. É penoso assistir essas pessoas sendo taxadas de péssimas e as lágrimas começam a rolar, mas certamente faz alguém ganhar muito dinheiro esse tipo de programa, mas certamente não são os artistas que ganham.

As pessoas podem se surpreender ao saber que você já cantou num coral de igreja.

BJ: Cantei sim, querida, e você sabe por quê? Por causa da religião? Não. Era 2 shillings e 6 pences por semana.

Você escreveu uma grande frase no livro sobre deus…

BJ: Bem, eu não acredito em religiões. Vamos colocar dessa forma: eu acredito que todas as religiões são ruins, uma perda de tempo. Jesus era um cara inteligente. Ele não era filho de deus. Nós todos sabemos que ele era muito inteligente, maravilhoso, e ele disse: “A igreja está aqui dentro”, significando que você é sua própria igreja. Se você é uma pessoa boa, você se torna digno e seu último suspiro irá durar pela eternidade. Se você á uma pessoa ruim, e viveu uma vida zoada, e prejudicou pessoas só por prazer, isso irá te afetar nos seus momento finais. Agora, veja, este é o Universo de acordo com Brian, e provavelmente eu estou errado como todo mundo, mas também estou certo como todo mundo. Todas as religiões dão dinheiro, causam problemas, guerras, mortes, e eu estou de saco cheio disso. Parem agora, aproveitem a vida.

Você acha que uma xícara de chá ajudaria a deixar tudo melhor?

BJ: Se um desses fanáticos tomasse uma xícara de chá e conversasse ao invés de matar um aos outros, decapitar ou cortar mãos, o que você acha?

Você parece surpreso que os fãs estão aparecendo para o lançamento do livro.

BJ: É que eu nunca fiz isso antes e isso tudo é sobre mim e eu não estou acostumado com isso. Eu estou acostumado a estar sempre com os rapazes. Eu nunca achei que conseguiria chegar até aqui e eu nem sei o que dizer sobre isso, me deixa sem palavras.

Foi ótimo falar com você. Eu adorei o livro.

BJ: Obrigado querida, foi ótimo você dizer isso. Meus mamilos endureceram. (RS).

Traduzido de popeater.com