Angus Young concedeu um pouco de seu tempo para Undercover News e falou sobre sobre seu estilo musical, as origens da banda, a morte de Bon Scott, a nomeação de Brian Johnson e as lacunas entre os álbuns.

Paul Cashmere: Vocês sempre tiveram fama de encrenqueiros. Vocês são dignos dessa má fama?

Angus Young: Eu sempre disse que o AC/DC nunca procurou encrenca. Ela vem até nós. Eu não acho que somos encrenqueiros. Certa vez um entrevistador Alemão perguntou para Malcolm “Aqui está uma TV, você quer jogar-la pela janela?” e Malcolm respondeu “Não, só quero levar ela pra casa”.

Paul Cashmere: A ironia sobre a imagem de encrenqueiros é que realmente são todos homens de família e casados.

Angus Young: Durante as duas horas que eu subo no palco, e me torno o “School Boy”. Mas logo que o show termina, eu saio do palco e vou pra casa. Eu nem sequer passo pela porta da frente, se eu chegar em casa com os chifres em minha cabeça. Podem pra eu limpar os pés antes de voltar pra casa.

Paul Cashmere: Então a Sra. Young não se veste de “School Girl” para agradar você?

Angus Young: (risos) Eu quero.

Paul Cashmere: Eu li que você se da muito bem com pintura, que faz uma série de paisagens.

Angus Young: É verdade. Sempre tive interesse em muitas coisas. Peguei uma vez um pincel e disse que ia pintar a parede um pouco.

Paul Cashmere: Que tipo de estilo de vida tem a fama e o conforto criado?

Angus Young: Sempre fui uma pessoa ligada às coisas simples. Nunca me interessei por uma vida sobre flashs. Acho que todos do AC/DC pensam o mesmo. Acho que é por isso que nos destacamos como somos. Somos só uma banda. Acho que se você pedisse pra alguém descrever um guitarrista de rock, eles não imaginariam alguém como eu, com os shorts e naipe de estudante. Acho que sempre fomos diferentes do resto.

Paul Cashmere: E sobre os bens materiais?

Angus Young: Bens materiais? Eu nunca fui um grande amante da vida sobre flashs, como ter uma casa enorme com uma piscina grande e um casal de crianças em cada braço. A coisa sobre os casais, talvez.

Paul Cashmere: Então você ainda mantém estilo de vida da época das

Angus Young: Muitas pessoas riem de como somos como cidadãos. Vou para os shows do AC/DC e ando junto com a multidão. Mas raramente me encontram. Estão sempre procurando pelo cara com o uniforme de estudante.

Paul Cashmere: Você se vê competitivo com as bandas mais jovens? 

Angus Young: Não realmente. Tocamos rock, vimos o rock, fizemos muita coisa. Tanto para nós, há sempre uma banda nova lá fora, essa coisa de novidade do ano.

AC/DC é AC/DC, e aquilo que os outros caras tem feito, nunca incomodou a gente. Nunca tivemos que entrar em uma competição. Eles sempre esperam que a gente esteja no número um da coisa e sempre falo que quando você chegar ao número um, só há um caminho a percorrer, e é pra baixo. Nós preferimos ser o Top 5 por 20 anos.

Paul Cashmere: Lá atrás competíamos com Sherbet e Skyhooks.

Angus Young: Sempre tem alguém dizendo que estamos embalados por algum estilo, mas com o AC/DC isso é diferente, sempre nos vimos como uma banda de Rock and Roll. A partir do momento em que começamos a banda, sempre foi uma honra pra nós, poder motivar alguém a separar parte de seu dinheiro soado e ir até uma loja e comprar o nosso disco.

Paul Cashmere: É muito desgastante um show ao vivo?

Angus Young: Pode ter intervalos. Quando fazemos uma turnê por 18 meses, no final desses 18 meses, você fica bem judiado. Coloque desta forma, você parecerá com alguém que precise de uma boa alimentação.

Paul Cashmere: Angus, você sempre pareceu como alguém que precisasse de uma boa alimentação de qualquer forma.

Angus Young: (risos)

Paul Cashmere: O barulho de seus shows afetou sua audição?

Angus Young: Isso é outra coisa com que eu nunca tive problema. Um bom motivo pra isso é eu ficar correndo pra lá e pra cá o tempo todo.

Paul Cashmere: Você ainda é um seguidor da música australiana?

Angus Young: Sim, quando eu estou lá. Quando vou pra Austrália faço um levantamento sobre o que está rolando. Mas muitas pessoas ainda estão por lá desde quando começamos. Jimmy Barnes ainda agita com suas músicas. Muito da velha guarda ainda existe, mas há muitas coisas novas aparecendo.

Paul Cashmere: O que você escuta quando está em casa?

Angus Young: Eu tenho uma pequena coleção de discos. Eu vou a uma loja de discos e compro um álbum, mas o problema é que eu já tenho. Tenho 8 cópias de Muddy Waters e 4 cópias de um álbum BB King.

Paul Cashmere: Vocês ainda se consideram uma banda australiana?

Angus Young: Claro, foi lá que começamos e de onde somos reconhecidos como “Vindo de”. Para nós, com certeza é onde estão as nossas raízes. Se não fosse pela a Austrália não estaríamos aqui.

Paul Cashmere: É engraçado, várias vezes os americanos elogiam sotaque “australiano” de Brian.

Angus Young: Eu acho que eles estão tentando descobrir de onde ele é. Brian tem um sotaque muito forte e eu acho que eles pensam isso porque o sotaque dele não se parece com o de seu país, e por isso ele deve ser australiano.

Paul Cashmere: Vocês vivem em várias partes do planeta. Como se manter em contato?

Angus Young: Da mesma maneira que eu estou falando com você agora.

Paul Cashmere: A banda faz ensaios pelo telefone, ei.

Angus Young: (risos) Sim.

Paul Cashmere: Vocês vão pra lugares diferentes depois de uma turnê?

Angus Young: Após uma turnê queremos chegar em nossas casas e alimentar os cães e gatos. Existem alguns dias durante o ano em que ficamos juntos e decidimos o que vamos fazer. Se eu não ver Brian por um tempo, a primeira coisa que eu vou ver quando for em um hotel é o Brian encostado na mesa do bar, foi lá onde ele estava quando o deixei.

Paul Cashmere: Pelo menos você sempre sabe onde encontrá-lo.

Angus Young: Isso mesmo.

Paul Cashmere: Quando os críticos fazem pesquisas para eleger o melhor guitarrista do mundo, nomes como Eddie Van Halen sempre surgem, mas raramente você. Os fãs dizem que você é o melhor, mas os críticos dizem que não. O que você acha sobre esse assunto?

Angus Young: Começamos como uma banda. AC/DC foi uma banda antes de tudo. Nunca nós vimos como peças individuais. Sempre foi assim que encaramos. Eu nunca disse que o AC/DC é um solo de guitarra e “aqui está vai seu solo de bateria”. AC/DC é uma combinação de cinco caras onde todos tocam com mesma intenção em mente. Saímos pra tocar um pouco de Rock N Roll. Não somos cinco caras exibindo suas técnicas individuais.

Paul Cashmere: Vocês têm feito pausas impressionantes durante todos esses anos, ai pessoas como Jimmy Page parece ficar com os elogios.

Angus Young: Ficamos na nossa. Tenho sorte. Há um monte de gente por aí que vai dizer que AC/DC os inspirou a pegarem em uma guitarra. Eu acho que isso em si também é um elogio.

Paul Cashmere: Qual é a sua banda cover do AC/DC favorita?

Angus Young: Uma vez ouvi uma banda francesa tocar “Dirty Deeds ” e “Ride On “. A gente estava em Paris, e os caras tocaram pra gente. Foi muito estranho ouvi-los cantar nossas músicas em uma língua estrangeira.

Paul Cashmere: O que mantém AC/DC por todos estes anos? Não dever ter sido sempre um mar de rosas.

Angus Young: É verdade, não foi. A única fez que pensamos em parar foi quando o Bon morreu. Foi uma grande decisão sobre se iríamos continuar ou não. Decidimos continuar. Eu acho que foi a coisa mais difícil de decidida, mas desde então só estamos melhorando. Eu nunca disse “está bem agora vamos parar”. Estamos melhorando positivamente.

Paul Cashmere: Como a morte de Bon afetou você?

Angus Young: Para mim foi como perder alguém provavelmente mais do que até mesmo um ente familiar. Éramos muitos unidos pessoalmente. Éramos muito, muito amigos. Em uma banda como o AC/DC é como estar em uma gangue infantil. Nós pensamos a mesma coisa. Você fica muito tempo juntos e isso é uma coisa muito difícil de você esquecer.

Paul Cashmere: Foi difícil substituir Bon?

Angus Young: Foi muito difícil. Nós realmente não sabíamos. Naquela altura as pessoas diziam “continuem” e outros diziam “vocês devem parar”. Ao mesmo tempo nós não queríamos procurar um cantor. Tudo o que sei é que Malcolm me chamou um dia e disse que deveríamos ficar juntos e continuar a escrever canções, porque senão iríamos ficar entediados com o tempo. Ele disse que isso ia ajudar a manter nossas mentes ocupadas e longe de magoas e então foi quando decidimos o que devíamos fazer. No que diz respeito à substituição de alguém como Bon Scott, você nunca pode substituir alguém como ele. Tivemos sorte em encontrar Brian Johnson. Brian tem o estilo único também. Ele tem um estilo único como Bon. Eu sempre procurei por alguém fazendo algo diferente na música como pessoas únicas. É o que eu fiz junto com Brian Johnson. Ele é um cara único.

Paul Cashmere: Ele é o mais velho? Ele ainda se parece com um cara jovem pra você?

Angus Young: Sim. Posso imaginar as vezes que ele se sente como um cara novo. Quando eu entrei na banda eu me senti como um cara jovem. Malcolm me colocou uma semana após a banda ser criada, e senti a mesma coisa.

Paul Cashmere: Como é que tudo começou?

Angus Young: Malcolm estava montando uma banda. Ele achou um edifício em Newtown e disse que ele podia alugar pagando pouco. Ele estava fazendo audições com os caras e dizendo às pessoas para virem e tentarem. Uma semana depois, ele me perguntou “por que você não sua guitarra e tenta?”. Eu achei ótimo, mas nada de trabalho diurno.

Paul Cashmere: De onde o uniforme escolar veio?

Angus Young: Veio da minha irmã. Ela sempre costumava dizer “Angus deve estar correndo pela casa com sua guitarra e com o uniforme da escola ou ele está la fora”, ou então eu estava trancado no meu quarto tocando guitarra . Quando eu estava com minha guitarra minha irmã se recordava do uniforme escolar. Ela disse: “Por que você não continua usando o uniforme? Dará alguma coisa para as pessoas olharem.”

Paul Cashmere: Era uniforme de uma escola especifica?

Angus Young: O primeiro que eu usei foi da minha escola original (Ashfield Boys High). Foi bom porque eu poderia voltar pra lá.

Paul Cashmere: A escola Ashfield Boys High tem uma estátua sua na frente agora?

Angus Young: Não, na verdade acho que eles colocam dentes de alho pra me manter longe.

Paul Cashmere: Deve ser engraçado, lá deve ter centenas de crianças que vão para a escola todos os dias vestidos exatamente como Angus Young.

Angus Young: É verdade.

Paul Cashmere: E quanto a crescer. É certo afirmar que o seu irmão George foi uma grande influência pra você? (George Young dos “The Easybeats” e “Flash & the Pan”)

Angus Young: Claro, admirávamos o que ele estava fazendo, mas ficava com ele por muito tempo porque ele sempre estava na estrada. Mas quando ele estava por perto, certamente fomos influenciados por ele.

Paul Cashmere: Não foi Sandra sua esposa, que pensou no nome AC/DC?

Angus Young: Foi pouco de uma combinação. Estávamos pensando em nomes e ela disse AC/DC. E assim ficou. Achamos um bom nome e também precisávamos de um nome rápido porque fomos a uma agência em Sydney e eles disseram que tinham alguns shows agendados e por isso precisavam de um nome.

Paul Cashmere: Quem são seus heróis guitarristas?

Angus Young: Gosto de pessoas como BB King e Buddy Guy, o grande guitarrista e meu favorito de sempre, Chuck Berry.

Paul Cashmere: E sobre as novas caras?

Angus Young: Não gosto. Hoje em dia muitos desses caras querem tocar rápido e furiosamente. Quanto mais eu observo isso, mais eu admiro o meu irmão Malcolm. Tocar ritmos, bons guitarristas de ritmos, isso está em extinção. Não há muitos deles aparecendo neste novo estilo musical mundial. Os grandes são Keith Richards e Ike Turner. Eles são grandes tocadores ritmo.

Paul Cashmere: Os álbuns estão se espalhando hoje. Foram dois, no primeiro ano, cinco nos primeiros dois anos e meio, mas são poucos e estão longe daqui.

Angus Young: É verdade, mas é o que o AC / DC tem feito, fizemos mais álbuns em nossa carreira do que várias outras bandas já fizeram. Temos mais álbuns nos últimos vinte anos do que o The Who. Temos sorte, agora temos muito mais tempo para sentar e passar o tempo escrevendo, o que é ótimo para nós. Você pode ficar concentrado de verdade. Às vezes, no passado você ficava com a corda no pescoço, especialmente quando você tinha que fazer uma turnê. Várias coisas foram escritas e gravadas enquanto fazíamos turnê. Hoje em dia, é bom poder sentar e escolher o que queremos fazer.

Paul Cashmere: Sempre gostei dos canhões no show.

Angus Young: Sim, eles são uma parte de nós dês do álbum “For Those About To Rock”. Quando tivemos essa ideia estávamos procurando alguma coisa no momento em que o casamento Real de Charles e Di estava acontecendo. Estávamos em Paris gravando algumas músicas para o álbum. Quando estávamos tocando “For Those About To Rock”, nós paramos e podíamos ouvir os tiros dos canhões. Um dos caras estava com a TV ligada assistindo o casamento Real. Eu disse que o barulho soou legal, então vamos tentar isso.

Paul Cashmere: Charles nunca recebeu o pagamento de royalties por essa idéia?

Angus Young: Nunca se sabe.