A revista americana, Rolling Stone, entrevistou nessa semana o guitarrista e um dos fundadores do AC/DC, Angus Young

O guitarrista falou sobre a saída de Brian Johnson, a decisão de aposentadoria de Cliff Williams, a participação de Axl Rose, da condição atual de seu irmão Malcolm Young e do futuro do AC/DC.

Leia na íntegra

Angus fala calmamente sobre os graves problemas de audição de Brian Johnson que o forcou a se aposentar dos palcos; a oferta imediata para substituí-lo que veio do vocalista do Guns N’ Roses, Axl Rose; o recente anuncio de Cliff Williams de que atual turnê será sua última; e sobre a condição de saúde do ex-guitarrista e seu irmão, Malcolm, que está com demência.

“A comunicação é difícil”, admite Angus. “Eu me comunico com ele. Mas não temos 100% de certeza do que se passa na cabeça dele. Mas eu falo pra ele que muitas pessoas sentem falta dele.”

Axl está acostumado a tocar o próprio barco. Você chegou a conversar com ele sobre como são as coisas no AC/DC – como chegar no horário?
Ele sendo muito bom. Ele se cuida, se prepara para cantar. Nos sentamos e conversamos sobre quais as músicas vamos tocar. Deve ser divertido pra ele, e pra nós. No começo, ele estava confinado à aquela cadeira que ele emprestou de Dave Grohl. Mas assim que ele melhorou, ele saiu dela e começou a se movimentar.

Como Axl foi escolhido para entrar no lugar de Brian?
Axl entrou em contato com o cara da nossa produção. Axl disse: “Eu conheço esses caras. Eles têm ética de trabalho. Eles querem finalizar essas datas da turnê”. Ele falou sobre algumas músicas como Touch Too Much.

– “Vocês conseguem tocar essa aqui?” 
– “Não, nós nunca ensaiamos essa aí. Nunca tentamos tocá-la ao vivo.”

Axl soa mais como Brian ou como Bon Scott?
Ele tem mais o estilo de Bon – persona rock n’ roll. Ele tem sua própria pegada folk. Ele aprende muito rápido. Axl tem escalas de voz diferentes. Você pode ouví-lo cantar Bon de uma forma e então mudar e fazer Brian, em tom mais alto.

Os problemas auditivos de Brian apareceram antes de vocês começarem a turnê?
Ele estava tendo problemas quando ensaiamos para o Coachella [2015]. Ele já tinha um ouvido ruim. Ele o danificou numa corrida de carros. O ouvido bom estava se deteriorando rapidamente. Estávamos na Austrália, e ele estava consultando um especialista. Ele estava sendo monitorado e tratado a cada show que fazíamos. Mas estava ficando difícil pra ele.

Você acha que a decisão de aposentadoria de Cliff está relacionada à saída do Brian?
Cliff já havia decidido isso antes mesmo de começarmos a turnê – essa seria sua última. Além de mim, Cliff é o que tem mais tempo na banda, está desde 1977. Cliff e Brian têm quase a mesma idade. Eles gostam de sair, ir a pubs. Eles têm uma ligação.

Baixista Cliff Williams. AC/DC. 2016.

Baixista Cliff Williams. AC/DC. 2016.

Como é a sair em turnê sem Malcolm nas guitarras? Seu sobrinho Stevie está conseguindo dar conta do recado?
Às vezes eu fico surpreso. Eu ouço o som atrás de mim e penso: “Isso soa muito como o Mal”. Quando Stevie era jovem, ele estava muito mais focado no que o Mal fazia. Não é uma coisa fácil. Você tem que ser firme e seguro. Parece simples, mas definitivamente não é.

O estilo de Malcolm tocar guitarra soava muito como a própria personalidade dele – direto e determinado.
Ele era mais velho do que eu – eu sempre prestei atenção nele. No estúdio, eu trapaceava com o som da guitarra. Desafinava pra caramba (risos). Então Malcolm me arrumava um som pesado e volumoso, e eu: “Oh, wow!”

Você se pergunta se era hora de se aposentar quando Malcolm não pôde mais continuar – que você levou a banda no limite?
Pode ser isso. Mas Malcolm sempre foi guerreiro. Ele olhava pra mim em momentos de crise e dizia: “Vamos continuar e trabalhar. Vamos sentar aqui e escrever algumas músicas”. Ele tinha essa pegada, e eu me senti obrigado a continuar, talvez porque eu estava lá desde o começo com ele.

Você já pensou no seu futuro depois que a turnê acabar? Você nunca tocou em nenhuma outra banda.
Sim, é verdade. A essa altura eu não sei. Estamos comprometidos em finalizar a turnê. Quem vai saber o que eu vou sentir depois? Quando você se compromete e diz: “Vou fazer isso e aquilo”, é sempre bom dizer no final: “Eu fiz tudo o que disse que faria”.

Essa sempre foi a ideia, especialmente quando éramos jovens – eu, Malcolm e Bon. Você tinha que subir no palco no horário. Tocar em pubs durante a tarde. E a noite estávamos tocando numa boate. Tínhamos o hábito: “Se não tocarmos, nós não comemos.”

Com quem você gostaria de tocar se tivesse a chance?
Eu teria que ressuscitar muitas pessoas, eu acho [risos]. Eu gostaria de tocar com Keith Richards, fazer alguma coisa. Ele é um cara de ritmo igual ao Mal.

Fonte: Rolling Stone Magazine