Diante a uma bandeja com sanduíches e uma taça com frutas frescas, que parecem ser ignoradas, está Angus Young tomando chá enquanto seu colega de banda, Brian Johnson, está fumando. “Eu estou tentando parar; eu sei, eu sei, isso não existe”, admite o vocalista.

Já faz quase um ano que a turnê Black Ice terminou. Em retrospectiva, o que vocês acharam?

Brian Johnson: Rápida. Pareceu um vento. Você nem percebe, e então de repente, estávamos dizendo adeus. Fiquei em choque por mais de duas semanas. Eu estava sentado em casa, e minha esposa ficava me olhando e dizendo: “Por que você não tira essa bunda dai e vai fazer alguma coisa?” Eu não sabia o que fazer. Eu não sabia mais como viver uma vida normal!

Angus Young: Eu fiquei na cama por uma semana, mas depois peguei a guitarra e fui para o estúdio trabalhar com ela. E montei alguns quebra-cabeças. Fiquei viciado!

Brian Johnson: Eu montei um quebra-cabeça também. Só levou três dias. Fiquei muito contente, pois na caixa dizia: “de cinco a seis anos”.

Falem um pouco sobre o novo DVD.

Johnson: Achei fantástico. Foi muito bem feito. As câmeras e tudo mais são inacreditáveis – penduradas sob cabos e automatizadas. Todas essas coisas modernas são de tirar o fôlego.

Young: E (o HD) realmente exibe todas as rugas!

O público da América do Sul é conhecido por serem insanos, e aquele que aparece no DVD com certeza prova isso. A resposta do público ainda significa alguma coisa após todos esses anos?

Johnson: Claro que sim. Eles me dão arrepios em algumas noites. Você tem que se concentrar no que você está fazendo, porque se você começar a olhar para o público, você acaba esquecendo o que tem que fazer.

Brian e Angus. Black Ice Tour. 2008 - 2010

Brian e Angus. Black Ice Tour. 2008 – 2010

Young: Em alguns shows, dá pra escutar o barulho do público antes de entrar. É como se você não precisasse estar lá. Eles já estão se divertindo. E você não pode ficar falando muito com eles. Isso nunca funciona.

Johnson: Eu acho que se você falar muito, você começa a soar como um político ou um líder sindical. Basta ficar de bico calado e começar a tocar.

Por que vocês não deixam os microfones (do guitarrista rítmico Malcolm Young e do baixista Cliff Williams) onde eles ficam, para não terem que andar 10 passos à frente e 10 passos para trás a noite toda?

Johnson: O quê?! Você deve estar brincando! Nós estaríamos perdidos! Ficaríamos confusos!

Young: Lembro quando Mick Jagger me perguntou: “Você acha que Malcolm tem que ir pra frente e tocar?” Então eu disse: “Esses passos estão enraizados nele. Esse é o seu jeito dançar. É isso. E além disso, é o seu único exercício da noite”

Johnson: Oh, não. Quando sai do palco, ele está suando! Acredite em mim.

Young: Malcolm é a “sala das máquinas”. E o que ele faz é único. Há muito poucos guitarristas como Malcolm no mundo. Há mais pessoas como eu: guitarristas.

Poucos falam, “Só quero ficar aqui e tocar um bom ritmo.” Malcolm é um solista muito bom.

Não o subestime, ele pode solar o e solar muito bem. No começo, quando tocávamos em bares, nós revezávamos. Ele fazia um solo e eu outro. Então um dia ele me disse, “Vou me concentrar no suporte e você pode fazer todas as coisas coloridas.”.

Johnson: Não há como imitá-lo. Vi pessoas tentarem tocar “You Shook Me All Night Long” ou “Highway to Hell”, mas faziam tudo errado – e eram bons guitarristas. Eu não sei o que é, e obviamente eles também não!

Vocês nos fizeram esperar oito anos por Black Ice. Não vão fazer isso de novo não né?

Johnson: Nah… Em oito anos vamos estar todos mortos, companheiro!

Young: Promessas, promessas.

Johnson: Ha! “Oh, lá se foi mais um!”

Young: “Será que ele pode levar seus amigos junto?”

Daqui a quanto tempo vocês pensam em fazer outro álbum?

Young: Ainda é cedo. Mas esperamos que venha mais cedo. A única fórmula de quando Malcolm e eu escrevemos, é que não há fórmula. Às vezes você tem muitas e muitas ideias – no nosso caso, quartos cheios delas. É uma questão de escolher a melhor – e, provavelmente, por sermos irmãos, podemos facilmente dizer: “Isso é bom. Isso é uma porcaria. Isso é bom…”.

Johnson: Eu acho que se você colocar uma data em algo, você se coloca sob pressão. Assim vem alguém e diz “Final de novembro” é como, ”Ah caral***”.

Vocês tocam o mesmo setlist todas as noites. Não fica chato depois de 150 shows? 

Young: Bom, eu tenho sorte. Tenho um poder. Sempre tive isso. Tenho uma segunda personalidade. Visto o uniforme escolar e me torno mais forte. Mais poderoso. Até a minha visão fica melhor.

Johnson: Ele é o Clark Kent, po**.”

Brian, você estava brincando quando disse que estaria morto em oito anos…

Johnson: Brincando? Eu não estava brincando!

Isso quer dizer que essa turnê exigiu mais de vocês do que a última?

Young: Bom, essas coisas acontecem com você. Nessa turnê, tive essa coisa com a perna. Não era na coxa, não me lembro. O médico disse que era algo com uma veia. Mas é engraçado, só me incomodava quando eu estava fora do palco. Quando subia lá, eu ficava bem.

Johnson: Mas isso é físico. O que você tem que entender é que nós fazemos, é o que um jogar de futebol faz – mas não temos quase uma semana para se recuperar. E se tivéssemos, iríamos querer apenas se sentar e fumar! Então, fazendo assim ficamos em forma. E desse jeito que consigo ir à academia todos os dias!

Você quer se manter nesse nível. A última coisa que queremos ouvir é alguém se lamentando ao olhar pra você, dizendo: “Oh, você deveria ter visto eles antigamente”.

A coisa é, estou me mantendo em forma, e Angus faz o mesmo que eu, mas ele tem que tocar o “banjo” ao mesmo tempo!

É igual ao que eu faço – mas com uma mochila de acampar nas costas. Para ele, não é difícil. Mas todo mundo pensa que é.

Mas Angus, se você perder seus joelhos ou coxas, o que você gostaria de tocar se não pudesse se mover como hoje?

Brian Johnson e Angus Young. Turnê Black Ice foi a maior da história do AC/DC.

Brian Johnson e Angus Young. Turnê Black Ice foi a maior da história do AC/DC.

Young: Eu viro biônico.

Vocês gostariam que a banda continuasse sem vocês?

Johnson: Isso é uma questão discutível, acho que pode se dizer que sim.

Young: Acho que sim, se conseguissem continuar. E você gostaria de saber se eles continuariam bem.

Johnson: Bom, eu não quero ver essa me*** acontecendo. Que se fo** isso. Seria como um lápis quebrado, inútil.

Young: Bom, eles têm a tecnologia agora, poderiam me colocar no telão.

Johnson: Daqui a 20 anos vamos poder ir ao estádio nos assistir!

O 40° aniversário da banda está chegando, será em 2013. O que vamos ganhar? 

Johnson: Fogos de artifício! Nah, acho que a melhor coisa seria ainda estarmos de pé depois de 40 anos de banda e ainda tocando para os fãs. Eu não acho haveria um presente melhor do que esse. Iria acabar com alguns de nariz empinado.

Fonte: Torontosun.com