Kurt Squiers vive no lar de seus sonhos, mas não por causa do jardim ou de seu tamanho. É a casa dos seus sonhos, porque tem o quarto “AC/DC”.

Fica no primeiro andar da mansão de Squiers, onde vive com sua esposa e seus dois filhos. O lugar dos sonhos começa com um sinal chifre com as mãos, as paredes estão cobertas com pôsteres, fotos, artigos de revistas, bonecos e artigos de vestuário com a imagem e o logotipo da banda de rock n roll. Há também um quadro com um cartão postal de natal Australiano da banda, o programa do “Rock and Roll Hall of Fame” de 2003 (ano que o AC/DC foi nomeado) e uma prateleira cheia de livros do AC/DC (existem mais do que você pode imaginar).

“E isso”, Squiers diz com orgulho, diante de um quadro com a camiseta regata que o vocalista Brian Johnson usa no palco. Squiers começou quando apareceu na VH1, a qual o nomeou como um dos maiores fãs do AC/DC e o filmou na primeira fila de um show em 2001. O quadro é autografado pela banda e inclui passes para backstage, ingressos, set list e até mesmo os fones de ouvido que usou naquela noite.

“As pessoas perguntam: “O que você salvaria se sua casa pegar pegando fogo?” Squiers diz. “Depois das crianças e minha esposa, é claro, eu salvaria este quadro.”

Aos 41 anos, Squiers está feliz e bem sucecido em sua carreira escolhida, a publicidade. Mas isso é apenas seu trabalho, porque a sua paixão é o AC/DC. Pense nele como um verdadeiro Dewey Finn, personagem de Jack Black no filme “Escola de Rock” – que, como Squiers, se vestiu com um uniforme escolar de Angus Young e arrebentou com uma guitarra.

Nos últimos anos seu fanatismo pelo AC/DC atingiu um impressionante (ou alarmante) patamar. Desde 2008 vem produzindo um filme, “Beyond the Thunder”, sobre a impactante influência do AC/DC. Além dos depoimentos de fãs de todas as idades, Squiers gravou entrevistas com um vasto leque de notáveis nomes, incluindo Billy Joel, Keith Richards, Howard Stern, B.B. King, Norah Jones, Stephen King e muitos outros. 

Um versão estendida do documentário foi exibido na mostra do AC/DC na Austrália e também na cerimônia de premiação da revista Classic Rock em Londres  levando ondas ao delírio.

Squiers e seu parceiro de Maine, Gregg Ferguson, já gastaram 2 anos e cerca de $75.000 do próprio dinheiro na produção. E pode acontecer que o documentário “Beyond The Thunder” nunca seja finalizado.

“Estamos sem dinheiro, e não parece existir uma luz no fim do túnel”, Squiers diz suspirando. “Não tenho ideia do que vamos fazer.” É um tiro no escuro, admite. “Mas a esperança é eterna”.

Há três anos, a família Squiers se mudou de Maine para Cary, onde trabalha como autônomo e sua empresa de produção de vídeo. Clientes antigos e atuais incluem a Microsoft, o New Orleans Saints  e cervejaria Sam Adams. Ele teve alguns pontos de destaque nacional. O comercial de farol de carro que tocou “I Can See For Miles”? do The Who foi um deles.

“Essa música custou quase $ 1 milhão para usar”, diz Squiers. “Mas vendeu muitos faróis.”

Squiers é fã do AC/DC desde os 10 anos de idade, quando seus irmãos mais velhos levaram para casa o álbum “Highway to Hell” do grupo. Antes disso, ele ouvia Supertramp, Village People e a trilha sonora do “Grease”. O jogou AC/DC todos esses “caras” para fora d’água.

“Era algo como: Chuck Berry usando esteróides!” Squiers diz com um sorriso. “Incrivelmente poderoso. Marcou em mim. Você quer ser mais frio do que você realmente é quando se está crescendo, então você procurar ouvir o que faz te sentir “maduro”. Isso se tornou uma leve obsessão”.

“Bem”, acrescenta ele, “talvez mais do que leve. Eu só não queria admitir isso.”

Squiers decidiu que queria admitir isso em 2001, quando a VH1 estava estreando um novo programa chamado “FanClub”.  Procuravam por um “fã definitivo do AC/DC.” Então Squiers enviou seu vídeo vestido de Angus Young na escola, tocando em uma espécie de show de talentos. Ele fez sucesso e deu uma grande audiência quando foi ao ar.

“É isso”, Squiers pensou. “A gota d’agua”.

A gravação para VH1 foi a primeira vez que Squiers conheceu o AC/DC, seguido de encontros casuais com os membros da banda em Nova York e Chicago. Após o encontro com Brian Johnson e o baixista Cliff Williams em um elevador na Chicago Blues House, Squiers teve que tomar uma bebida com eles. Nos 20 minutos que passaram juntos as ideias começaram a surgir.

Na época, Squiers e Ferguson estavam fazendo muitos trabalhos para a Microsoft, gravando entrevistas com celebridades em estilo de documentário. A principio, a ideia era fazer um olhar “por trás dos bastidores” com os membros AC/DC.

Eles entregaram a proposta para a gerência do AC/DC, que educadamente respondeu: “Nós gostamos do que vimos, mas provavelmente não neste momento.” Implacável, Squiers e Ferguson decidiram então fazer um filme sobre os fãs do AC/DC.

“Queríamos mostrar o que as pessoas têm feito com a influência do AC/DC em suas vidas”, diz Squiers. “ Não apenas os músicos, mas os atletas, atores, políticos, militares. No meu caso, o AC/DC realmente influenciou em minha personalidade: Mantenha as coisas com um jeito simples, forte, firme, ao ponto.”

Assim, inspirados, Squiers e Ferguson mergulharam profundamente, deixando de lado suas carreiras para perseguir seus sonhos.

Eles começaram as filmagens em 2008, quando o AC/DC lançou o álbum “Black Ice” e a turnê mundial.

Entre os destaques em “Beyond the Thunder” está o lançador de beisebol Trevor Hoffman, que usou “Hells Bells” como introdução para sua entrada nos jogos; Hayseed Dixie, um grupo que toca versões de bluegrass de canções do AC/DC, e o cartunista de “Beavis e Butt-Head” / “King of the Hill”, Mike Judge.

A esposa de Squiers. Andrea, que é uma professora de segundo grau, entende.

“Nunca tive dúvidas”, diz ela. “Eu sou aquela que disse: ‘Este é o seu sonho’. Isso atrasa nosso terceiro ano de hipoteca, poderíamos usar esse dinheiro para os pagamentos”.”Mas, com grandes riscos, vêm de grandes recompensas. Desde que eu o conheço, esta banda tem sido uma paixão e uma parte de estrutura. É a história que ele esperou a vida inteira para contar. Como eu poderia não ser solidária?”

Em termos de filmagem, Squiers estima que o filme está de cerca de 70% feito. Mas o que está faltando é a coisa mais difícil de se conseguir: permissão de uso das músicas e imagem do AC/DC. E é aí que eles caíram no Squiers chama de “A fortaleza AC/DC”.

Eles não tiveram sorte recebendo através da gerencia da banda,  apesar de enviarem uma carta com uma imploração juntamente com uma cópia do trailer dentro de um amplificador Marshall, e etiquetas dizendo: “Me liguem a qualquer momento” e “Disponível”.

“Não há resposta para nada”, diz Squiers. “Assim estamos quase desistindo, e estamos meio que sem gasolina. O que vai acontecer? Eu não sei.”

Fonte: newsobserver.com