The Youngs: The Brothers Who Built AC/DC foi um livro que nunca imaginei escrever.

Durante anos eu trabalhei para as redes de TV SBS e Fox Sports escrevendo sobre futebol. Meu primeiro livro, 15 Days in Junes, foi sobre a Copa do Mundo da FIFA. Depois escrevi Laid Bare, memórias do meu divórcio.

Futebol. Relacionamentos. AC/DC. De fato não há rima ou lógica em minha carreira como escritor.

Mas é assim que eu gosto. Escrever sobre AC/DC foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida pois tive contato com pessoas maravilhosas e também fiz alguns grandes amigos. A comunidade AC/DC, a “família AC/DC”, é unicamente rica e diversificada. E verdadeiramente global.

Entre todas as pessoas que tive o prazer de conhecer, uma delas se destacou: Tony Currenti, o baterista do primeiro disco do AC/DC – a versão Australiana do High Voltage. The Youngs [o livro] é dedicado ao Tony, ao ex-baixista do AC/DC, Mark Evans, e ao já falecido executivo da Atlantic Records, Michael Klenfner.

Capa do livro: The Youngs

Capa do livro: The Youngs

Quase perto dos 40 anos de gravação daquele importante álbum, eu decidi fazer uma busca para encontrar Tony em sua pizzaria em Penshurst, que fica na região sul de Sydney [Austrália]. Não foi preciso todo aquele aparato e trabalho de detetive. Eu encontrei ele no Facebook.

Mas Tony nunca falou com nenhum autor… nunca. Eu mal conseguia acreditar na sorte que tive. Nas contas dele, o AC/DC o convidou duas vezes para fazer parte da banda. Ele tocou em gravações que venderam milhões de cópias no mundo todo. Por vários motivos ele não pôs as mãos na bateria desde 1977 – logo após deixar a música para começar uma família e um negócio. Ele é uma pequena, mas significante parte da história do AC/DC. E ele me contou no The Youngs que não só mudou a história do AC/DC mas também a história do rock.

Ele é um dos personagens reais de uma história incrível que é destaque na maior parte do Capítulo 2, “Evie”. Fiquei muito feliz ao ver que Tony finalmente está recebendo o reconhecimento que merece dos fãs de todo o mundo. Quando alguns desses brilhantes fãs souberam que a velha bateria Ludwig de Tony não poderia ser mais reparada, eles se uniram e deram a Tony um kit novinho em folha de uma bateria da Pearl.

Quando ele apareceu comigo e a apresentadora Jane Gazzo da Foxtel no palco do “Festival de Escritores de Sydney” em maio desse ano, ele foi de longe o favorito do público. Ninguém deixa de ser tocado por seu jeito descontraído.

Ele então se preparou e tocou AC/DC num palco pela primeira vez em quase 40 anos. Um momento verdadeiramente mágico para todos aqueles que estiveram no Bridge Hotel em Sydney para vê-lo tocar a música High Voltage com a banda The Choirboys.

Tony é o único italiano que já tocou na maior banda de rock do mundo! Isso me faz perguntar porque diabos ele ainda não recebeu uma cadeira de honra no Parlamento Italiano. Eles também deveriam nomear ruas com o nome dele na Sicília. Melhor do que isso, você pode encontrá-lo quase todas as noites na Tonino’s Penshurt Pizzeria, preparando fabulosas pizzas. É essa simplicidade que faz de Tony um sujeito brilhante.

Ele não tem nenhum daqueles tipos de ego que fazem as ex-estrelas do rock serem uma companhia insuportável. Até mesmo quando as pessoas falam seu nome errado – o que de fato acontece muito -, ele simplesmente dá de ombros e sorri.

Tony Currenti: Gravação de High Voltage

Tony Currenti: Gravação de High Voltage

Tony é um filme de Hollywood à espera por acontecer ou um documentário especial no Australian Story [famoso programa de documentários da ABC Television sobre importantes figuras nacionais]. Pra ser honesto, eu não acho que conseguiremos uma história de um imigrante melhor do que a do Tony. Ela possui tudo o que você jamais pediu!

Tony migrou da Sicília para a Austrália em 1967. Aprendeu a tocar bateria “dedilhando” o seu piano de acordeon e batendo colheres em qualquer cadeira que encontrava pela frente. Sim, essa é uma história verdadeira. Garanto pra vocês que o relato de quando ele foi tocar com o AC/DC beira à ficção científica. Você jamais imaginaria!

Tony não está no AC/DC hoje porque ele era leal demais a uma banda de “racistas” – foi assim que ele os chamou -, conhecidos como Jackie Christian & Flight que eram o grupo de gravação da Albert Productions e tinha algumas músicas escritas pra eles por George Young [ex-Easybeats, produtor dos primeiros e de vários álbuns do AC/DC, também irmão de Angus e Malcolm], uma chamada Love, e outra chamada The Last Time I Go To Baltimore. Eles também tocaram no hit de sucesso da banda de Ray Burgess, Love Fever.

Jackie Christian & Flight achavam que estavam à beira do sucesso, mas Tony escolheu a banda errada. Seu passaporte italiano também não o ajudou. Se ele tivesse entrado para o AC/DC e ido à Inglaterra, significaria que ele teria de parar em Roma. Lá ele teria sido recrutado para o serviço militar italiano.

Com tudo isso na balança, ele acabou não ficando no AC/DC. Ele não se arrepende. E por que se arrependeria? Ele tocou nas melhores músicas do High Voltage (nas versões australiana e americana). Ele tocou num clássico de Stevie Wright [ex-The Easybeats], Evie (é ele na Parte III). Também tocou com o AC/DC no [famoso] Chequers na Goulburn Street, Sydney, em 1975. Ele era o baterista de estúdio favorito de George Young, e muitas das músicas em que Tony tocou estão nos lançamentos e coletânias que já venderam milhões de cópias. Três das 5 músicas do ’74 Jailbreak, um EP que foi lançado em 1984, conta com Tony na bateria.

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Tony recebeu apenas $35/hora (aprox. R$ 80,00 nos dias de hoje) pela sessão de trabalho e isso foi o suficiente pra ele. Tudo o que ele queria era encontrar os irmãos Young de novo, principalmente George. Ele tentou contato na última vez que o AC/DC esteve em Sydney em 2010, mas não conseguiu. É muito triste que esse desejo de Tony não tenha sido alcançado.

Portanto, meu maior desejo é que alguma boa notícia aconteça ao contarmos essa história, e que os irmãos Young peguem o telefone e marquem uma reunião com esse homem, seu velho amigo. Ele é uma figura viva da história da música e merece um reconhecimento adequado. Ele não está em busca de dinheiro; o que ele deseja é algo muito, muito longe disso. Modesto como ele sempre foi.

Ele merece os nossos agradecimentos e reconhecimento justo.

Artigo escrito por Jesse Fink.