Material especial e exclusivo da revista Rolling Stone, que nesse ano fez parceria com a banda para a cobertura do lançamento do novo álbum do AC/DC.

Leia na íntegra a matéria traduzida.

O primeiro sinal ruim apareceu antes mesmo de o AC/DC gravar o novo álbum, “Rock or Bust“, em Vancouver, em maio: o baterista de velha data, Phil Rudd, chegou 10 dias atrasado para a sessão de gravação.

“Em certos momentos ele estava vindo, depois não estava mais, e depois estava,” lembra o guitarrista Angus Young. “Não somos uma banda que gosta de ficar esperando”. Em certo momento, Angus disse que o produtor Brendan O’Brien decidiu dar só mais uma chance para Phil Rudd se apresentar. “Brendan disse, ‘se ele não estiver aqui até sexta-feira, nós vamos arrumar outro baterista”.

Foto de divulgação do novo álbum

Foto de divulgação do novo álbum

Rudd então chegou, e Angus disse que ele “fez o seu trabalho”. Mas o guitarrista observa, “Eu nunca tinha visto ele daquela maneira. Não era o Phil que nós conhecíamos antes de terminar a última turnê [Black Ice]. Ele acabou se perdendo.”

Em outubro, Rudd não apareceu para a sessão de fotos e vídeo da banda em Londres. Então, no dia 06 de novembro, ele foi preso em sua casa na Nova Zelândia, acusado por “tentar contratar um assassino”. A acusação foi retirada por falta de evidências. Mas Rudd continua sendo acusado por ameaça de morte e posse de metanfetamina e maconha.

Em um comunicado de imprensa, o AC/DC claramente disse que a banda está pronta pra sair em turnê sem ele: “A ausência de Phil não afetará o lançamento do novo álbum, ‘Rock or Bust’, e da turnê no ano que vem”. Angus confirmou isso em uma entrevista na semana seguinte da prisão de Rudd: “A situação da bateria é uma dúvida. Mas nós definitivamente vamos sair em turnê”. O guitarrista confessa que foi pego de surpresa pelas novas encrencas de Rudd. “Mas os problemas dele começaram antes mesmo dessa situação em que se encontra agora. E nossa decisão é de continuar.”

Angus sente o impacto da falta de uma figura principal no poder de som do AC/DC: a ausência de Malcolm Young, irmão mais velho de Angus e obstinado guitarrista de ritmo, que está sofrendo de demência e está em tratamento em tempo integral num centro não divulgado na Austrália. Malcolm, de 61 anos, não tocou no “Rock or Bust”, e está permanentemente aposentado da banda de blues/rock de grande sucesso que fundou com seu irmão Angus, em Sydney em 1973. Isso deixa Angus – de 59 anos que ainda continua usando seu uniforme escolar. Sua marca registrada – guiando o vocalista Brian Johnson, o baixista Cliff Williams e o novo guitarrista Stevie Young de 58 anos, sobrinho de Angus e Malcolm, para um futuro incerto. Mas “Mal sempre quis que a música continuasse”, diz Brian Johnson. “E eu não vou dizer o contrário.”

“O estado de saúde do Mal foi piorando gradualmente”, diz Angus, falando publicamente pela primeira vez sobre a condição de Malcolm durante uma conversa em outubro desse ano. Os sintomas – lapsos de memória e concentração – “começaram a aparecer antes mesmo do último projeto”, o álbum de 2008, “Black Ice“. Mas Angus diz que Malcolm ainda “era capaz de saber o que queria fazer. Eu perguntei à ele, ‘Você quer seguir adiante com o que estamos prestes a fazer?’ e ele respondeu, ‘Com certeza’.” Angus aponta que Malcolm “gostaria de finalizar o que tinha começado.”

Tomando uma xícara de chá num hotel em Londres, falando num suave e despretensioso resmungo, Angus revela que Malcolm já estava fazendo tratamento durante a última turnê com o AC/DC, de 2008 até 2010. “Ele tem uma ajuda boa, um bom tratamento médico,” diz Angus. Malcolm teve que “reaprender muitas coisas,” inclusive riffs que havia criado para as maiores músicas do AC/DC, “algo que foi muito estranho pra ele. Mas ele sempre foi um cara bastante confiante, e fizemos isso dar certo.”

Foto promocional do álbum "Rock or Bust". 2014.

Foto promocional do álbum “Rock or Bust”. 2014.

Malcolm está presente no álbum “Rock or Bust”. As 11 músicas são creditadas à “Young/Young”, foram amplamente baseadas em fragmentos de guitarras que Angus e Malcolm acumularam durante a composição dos álbuns anteriores do AC/DC. Enquanto trabalhava no novo material, Angus diz que não chegou a mostrar o conteúdo para Malcolm. “Na condição em que ele se encontra, isso se apagaria”, admite.

Angus pediu conselhos de um outro irmão mais velho, George Young, um ex-integrante dos roqueiros australianos do Easybeats que produziu os primeiros álbuns do AC/DC. Mas ultimamente, Angus diz, “Você tem que tomar a decisão por conta própria: ‘O que eu vou fazer?'”. Ele e Malcolm – ambos nasceram em Glasgow, Escócia e cresceram em Sydney, Austrália – responderam à essa pergunta juntos em 1980 após a morte do vocalista Bon Scott; eles contrataram Brian Johnson, um entusiasmado inglês com um grito rasgado, e fizeram o álbum mais vendido do AC/DC, “Back in Black“. E dessa vez, no fim de 2013, Angus foi até Stevie, o filho do irmão mais velho dele e de Malcolm (também chamado Stevie). Stevie havia substituído Malcolm durante a turnê de 1988, quando Malcolm teve de deixar a banda para se tratar do alcoolismo.

“Foi terrível e ótimo ao mesmo tempo”, Johnson, 67 anos, fala sobre a gravação de “Rock or Bust”.”Angus deve ter se sentido estranho tocando as músicas sem o Malcolm.” Mas Johnson relembra de ter visitado Stevie numa noite “para ver como ele estava indo, e Stevie estava se preparando, tocando as músicas, aprendendo os riffs. Ele trabalhou pesado pra garantir um trabalho bem feito.”

“A coisa mais importante do AC/DC é a jogada da direta para a esquerda com as guitarras”, diz Brendan O’ Brien. “Stevie entendeu isso. Ele usou as mesmas guitarras, as mesmas configurações, e conseguiu o mesmo som.” Cliff Williams acredita que isso era inevitável. Stevie é, acima de tudo, um Young. “Está no sangue dele”, diz o baixista de 64 anos. “E isso é nítido”.

O resto no AC/DC, incluindo o futuro que vão ter depois do “Rock or Bust” e da turnê em 2015, está nas mãos de Angus – sozinho. “Essa é a paixão de Angus, mas ele não tem Malcolm pra ajudá-lo”, O’ Brien observa. “Ao mesmo tempo, ele tem que decidir, se é algo que ele quer continuar fazendo ou se já basta.”

Malcolm não escutou “Rock or Bust”. “Ele ainda continua gostando das músicas dele”, diz Angus. “Nós cuidamos pra ele ter sempre os discos de Chuck Berry, um pouco de Buddy Holly.” Mas Angus quer focar no lançamento do disco e na turnê – sem Rudd se necessário – conforme o desejo de Malcolm. “Olha, até mesmo doente, Malcolm estava fazendo turnê até não conseguir mais.”

A prisão de Rudd “foi uma bomba pra nós”, admite Angus. Mas ele repete, “nós definitivamente vamos sair em turnê. Estamos comprometidos com isso.”

Assista ao vídeo exclusivo da Rolling Stone onde a banda fala sobre a gravação do clipe “Rock or Bust” e seus fãs.

Fonte: Rolling Stone